A exemplo do que escrevi sobre São José de Mipibu (20/08/14), sou chamado pela minha memória episódica para revisitar a cidade de João Câmara/RN.
Município que
presta uma justa, merecida e honrosa homenagem ao nome do seu maior e mais
admirado habitante: João Severiano Câmara (Taipu, 8 de março de 1895 – Natal,
12 de dezembro de 1948)- João Câmara; agropecuarista, comerciante, industrial e
político; tendo sido o seu primeiro prefeito; deputado estadual e senador da
República pelo estado do Rio Grande do Norte.
Na época, início de
1953, a cidade era conhecida como Baixa Verde, denominação essa devida à
sua localização: região de baixo relevo e solo arenoso, coberta por uma
gramínea sempre verde, mesmo nas épocas de secas mais intensas; que foi
oficializada pelo seu fundador, o engenheiro Antônio Proença (História do município de João Câmara-RN, Antônio Gomes, em Foco, junho
de 2012), de onde guardo com muito carinho e saudades momentos inesquecíveis da
minha infância e adolescência.
O nome Baixa
Verde foi mudado para João Câmara em 19 de novembro de 1953, Lei estadual
de número 899.
O município
está situado na região do Mato Grande, a 75 quilômetros de Natal, com uma
população aproximada de 35 mil habitantes.
Visitava Baixa
Verde em duas etapas da minha vida: a primeira na fase ainda de criança, em
incursões no período de férias escolares, quando meu pai escolhia a casa da sua
irmã, minha tia Anália de Castro, casada com Francisco Cândido Barbosa,
agropecuarista, muito conhecido e admirado pelo povo da região; da união
nasceram sete filhos, três homens e quatro mulheres, que de forma
exemplar e cuidadosa souberam educar e formar brilhantemente.
A casa era
grande, muito bem situada, próxima à Igreja e à feira central que
se instalava nos finais de semana, com bastante movimentação comercial
entre os habitantes da região. A ampla área não construída da residência
abrigava alguns pequenos açudes, que em certa época do ano recebiam na
superfície de suas águas uma vegetação rala, uma espécie de um lodo, tomando
toda a sua extensão.
Presenciei
muitas vezes meu pai tomando banho e nadando alegremente sobre aquele bonito e
estranho tapete verde.
Percebia
também que Francisco Cândido Barbosa exercia um certo poder político na cidade,
muito embora nunca tenha ocupado nenhum cargo. Era frequente a presença de
grande número de pessoas, que iam procurá-lo em busca de auxílios e eram, com
certeza, atendidos. Representava, com orgulho para a cidade, um homem de bem e
um bem-sucedido agropecuarista, com ênfase no plantio de algodão de
fibra longa (o ouro branco da época), agave ( sisal) e na criação de
gado.
Esse período
era sempre um momento muito especial, proveitoso e feliz para a toda
família, um gesto maior de aproximação e união fraterna.
Anos depois da
morte de Francisco Cândido, um filho seu de igual, Francisco Cândido Barbosa
Filho (Chico Barbosa), que permanecera morando na cidade, se candidatara a
prefeito da cidade, tendo como adversário o conhecido Chico da Bomba. Campanha
acirrada nas ruas, muito trabalho, muito empenho da família e muito dinheiro
envolvido. Finalmente apurados os votos, vitória de Chico da Bomba. Decepção
total e desconforto maior para quem jamais imaginaria perder a campanha,
valendo-se do rico e histórico legado deixado pela família na região. Promessa
feita: jamais voltaria a pôr seus pés na cidade; promessa cumprida: faleceu sem
voltar ao berço dos Barbosa, amargurado e decepcionado.
Em uma segunda
etapa, volto a Baixa Verde, na condição de adolescente, jogando futebol.
Convidado pela figura admirada e maior do futebol da cidade, Anacleto, e os
amigos Benfica (Dodoca, Maurício) e Antônio Câmara(Toinho Câmara), para compor
o bom time do Boca Júnior (imbatível) na região.
As
apresentações da forte equipe aconteciam sempre aos domingos; lotava o campo e
enchia a cidade de alegria, numa festa da mais alta empolgação. Nomino alguns
astros da equipe: Raimundinho, Tareco, Manoel Carlos (cabelo bem lambido de
brilhantina Glostora, jamais assanhado), impecável nos passes longos; Dodoca,
Maurício e outros que me fogem à memória. Um grande time. Depois do jogo,
sempre com vitória, éramos agraciados e recepcionados com bela noitada no clube
da cidade, onde reinávamos até altas horas (não faltavam rainhas).
Que
beleza! Que saudade! Éramos felizes e sabíamos, sim! Viva Baixa
Verde! Saudades!!!
Berilo de Castro – Médico e escritor
FONTE – PONTO DE VISTA
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